domingo, 5 de agosto de 2007


LIRISMO EM ZECA BALEIRO (BANDEIRA)
A literatura começou com a poesia, com a canção de um nômade que antecede os rabiscos de um colono.
Joseph Brodsky
A poesia e a música têm uma estreita ligação. A própria história da poesia comprova a íntima relação entre esses dois elementos da arte. Reza a tradição que a música e a poesia nasceram juntas. De fato, a palavra “lírica”, de onde vem à expressão “poema lírico”, significava originalmente certo tipo de composição literária feita para ser cantada fazendo-se acompanhar por instrumento de corda, de preferência a lira.
Durante muito tempo a poesia foi destinada à voz e ao ouvido. Seria necessário esperar pela Idade Moderna para que a invenção da imprensa, e com ela o triunfo da escrita, acentuasse a distinção entre música e poesia. A partir do século XVI a lírica foi abandonando o canto para se destinar, cada vez mais, à leitura silenciosa.
Entretanto, mesmo separado da música, o poema continuou preservando traços daquela antiga união. Certas formas poéticas ainda vigentes como o Madrigal, o Rondó, a Balada e a Cantiga aludem francamente às formas musicais. Além disso, pode-se estudar o “andamento” de uma passagem poética ou referir-se à “harmonia” de um verso ou à “melodia” de um refrão ou estribilho de um poema. E não se pode esquecer também que, tradicionalmente, o poeta é chamado de “cantor”, assim como o poema é chamado de “canto”. Para se inspirar, Homero, o mais antigo poeta, começa a sua “odisséia” procurando ouvir o canto da Musa:
Canta para mim, ó Musa, o varão industrioso que, depois de haver saqueado a cidade de Tróia, vagueou errante por inúmeras regiões, visitou cidades e conheceu o espírito de tantos homens...
Dentro desse contexto, de que a música e a poesia têm laços eternos, vamos refletir sobre a música popular brasileira (MPB) e seu inegável valor poético.
A canção, tal como conhecemos hoje, existe há bastante tempo. Uma de suas características foi a de ser música produzida no meio popular e para ele especialmente dirigida.
Entretanto, com o advento dos meios de comunicação, ela foi abandonando aquele espontaneísmo de arte popular para entrar definitivamente nos esquemas comerciais que o rádio e a televisão vieram impulsionar. Tomando este rumo, a canção deixou de ser apenas expressão cultural de uma comunidade para atingir públicos cada vez maiores.
Uma outra característica da canção permaneceu mais intacta. Tal como a música erudita, ela pode dispensar a letra para ser apenas e tão somente uma peça musical. Contudo, é pela antiga combinação letra e música que a canção melhor se define.
Quando pensamos em música popular, logo nos vem à mente a imagem do cantor. A maioria liga o rádio e compra o CD para ouvir e aprender as canções que o intérprete nos ensina.
As palavras da letra servem para fixar a melodia na memória. Saber cantar as canções é um dos prazeres do ouvinte, e isto só é possível graças à presença da letra combinada à música.
Mesmo não desconhecendo o fato de que a canção só pode ser plenamente avaliada levando-se em consideração a intimidade essencial da letra com a música, neste trabalho vamos privilegiar a letra como objeto da nossa preocupação. Sendo assim, ela será considerada como se tivesse autonomia em relação à música.
Para exemplificarmos nossa idéia, escolhemos a canção-poema “Bandeira” do maranhense Zeca Baleiro, que ao nosso entender é repleto de líricas:
Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
Peixe na boca do crocodilo
Braço da Vênus de Milo acenando ciao
Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro
Se bem me lembro
O melhor futuro este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo me escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo, ter estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal
Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida noves fora zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver
(Se é assim quero sim, acho que vim pra te ver)
Nesta canção-poema, o lirismo está presente. Nela encontramos o eu-poético exteriorizando os seus sentimentos. É visto aqui o mundo a partir da percepção do poeta já que é apresentada através da primeira pessoa do verbo querer:
Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
(...)
Para Hegel (1980, p.224), “Tudo emana do coração e da alma ou, mais exatamente, das disposições e situações particulares do poeta”.
No poema de Baleiro vemos uma situação particular, íntima do poeta, algo amargo e secreto o que confessa desejar intensamente não são as coisas dispensáveis, mas as essenciais.
Outra coisa que observamos é o elemento abstrato que provoca o estranhamento, a mudança de direção do real sentido da palavra “eu não quero ver você chorar veneno” ou “braço da Vênus de Milo acenando ciao” um jogo lúdico com as palavras já que a Vênus de Milo não tem braços.
É notório no poema o uso de metáforas simples “eu não quero beber o teu café pequeno” e metáforas de 2º grau “eu não quero ver você chorar veneno”. É uma obra rica em recursos estilisticos.
(...)
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
(...)
Aqui temos a repetição do termo “eu não quero” constituindo uma anáfora. Isso ocorre em outros versos do poema em que essa mesma expressão volta a se repetir.
Outro recurso estilístico encontrado é a aliteração e assonância
Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
(...)
O melhor futuro este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo me escorrendo das mãos
(...)
Baleiro em sua composição, não nomeia as coisas usando sempre os pronomes demonstrativos ou indefinidos:
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
(pronome demonstrativo)
(...)
Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
(pronome indefinido)
(...)
Sobre o ritmo do poema, Mello (2002, p. 131) diz que
A aceleração ou desaceleração da elocução traduz a maior parte dos estados afetivos. A desaceleração progressiva da velocidade pode indicar tristeza, desencorajamento, mas também ternura.
Nos versos abaixo vamos encontrar o emprego de consoantes nasais “n” e “m”; o uso da expressão “eu não quero” denotando uma idéia melancólica, monótona, triste, certa desaceleração do ritmo da canção-poema mostrando lentidão. Também temos rimas soantes e a acentuação é grave:
Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
(...)
Nem passar agosto esperando setembro
Se bem me lembro
(...)
Considerações finais
Zeca Baleiro foge ao contexto dos lugares comuns e clichês descartáveis nacionais. Lendo-se e ouvindo-se Zeca Baleiro, não é difícil chegar a uma conclusão: ele é um poeta, compositor e músico que tem plena consciência do seu rumo. Esse mérito lhe permite transitar com rara desenvoltura pelos meandros e labirintos da poética.
Baleiro transgride a sintaxe e a ortografia, sem usar muitos sinais de pontuação desconstruindo a norma padrão em certos momentos. Com vários recursos estilísticos como em “O melhor futuro este hoje escuro”
recorrendo a supressão do verbo ser, constituindo uma elipse ou ainda nos versos “Nada tenho vez em quando tudo/ Tudo quero mais ou menos quanto”.
Zeca Baleiro nos trouxe uma canção-poema cheia de lirismo e leveza construindo uma tessitura lúdica de trocadilhos harmonicamente entrelaçados na melodia do poema que flui feito o olhar de quem o lê nas águas revisitadas do Tejo. O eu - lírico do poeta fala de alguém transtornado, sofrendo por ver o outro se destruindo, esvaindo-se na armadilha fascinante das soluções fáceis e falsas do imediatismo:
Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
(...)
E o poeta não quer compartilhar esse caminho aparentemente iluminado, mas disperso “Eu não quero isso seja lá o que isso for (...)”. E as opções existentes também não lhe interessam: ” Eu não quero aquele/ Eu não quero aquilo (...)”. Ele quer o sentimento livre dos perigos, “Peixe na boca do crocodilo”. Fluir livremente sim! Se dispedaçar no abismo não! Tudo que o poeta quer é a plenitude, a garantia da existência “Quero a Guanabara/ Quero o Rio Nilo/ Quero tudo, ter estrela, flor, estilo (...)”.
Referência bibliográfica
BALEIRO, Zeca. Por onde andará Stephen Fry?. CD 011241 – 2, MZA, 1997.
HEGEL. Caráter geral da poesia lírica. In. _____. Estática: poesia. Vol. VII. Trad. Álvaro Ribeiro. Lisboa: Guimarães Editores, 1980.
MELLO, Ana Maria Lisboa de. Poesia e imaginário. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002, p. 125 – 158.
MORAES, Maria H. M. de. A metáfora na poesia de Djavan. In: _____. Cor, som e sentido: a metáfora na poesia de Djavan. Curitiba: HD Livros/ Maceió: FAL, 2001.
PAZ, Octavio. O ritmo; o verso e a prosa. In: _____. O arco e a lira. Trad. Olga Savary. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
TEZZA, Cristóvão. A poesia segundo os poetas. In _____ . Entre a prosa e a poesia: Bakhtin e o formalismo russo. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007


Hoje meu dia passou ao vazio outra vez
A diferença é que a sensação é só física
Pois estás dentro de mim, dentro do meu coração

Te amar é tão fácil...

Seu olhar me lembra coisas boas,
Seus beijos me levam ao êxtase
Suas mãos me mostram caminhos novos
Em que se reconhecem e se encontram no seu corpo
Cada suspiro seu me faz
Viajar mais e mais no teu querer
Sei que logo mais estaremos juntos mais uma vez

Passa rápido, mas meu corpo, minha mente, minha vida sente
Necessidade mais e mais de você

Sente a urgência de te amar
De te fazer mais feliz
Te fiz feliz, amor?
Porque eu fui e sou feliz
Te amo Israel Goulart
Obrigada pelos melhores dias da minha vida.

Escrito dia 28 de junho de 2007 no aeroporto de Guarulhos/SP às 19:07.

Homemenagem ao meu amado


Há exatos 23 anos às 20 horas e 30 minutos nasce aquele que um dia ia fazer a minha vida ser maravilhosa e que me mostrou algo novo: o que é ser cúmplice do outro. Veio com um sorriso tímido, sincero, único. Sempre dizia para mim ‘eu sou diferente, as pessoas me vêem de uma forma diferente’. Para mim a diferença era o que se apresentava alguém lindo. E que voz. Já disse que eu me apaixonei pela voz dele? Quem conhece a nossa historia sabe. Foi a voz. Profunda, quente, arrepiante. O coração disparava, o arrepio vinha toda vez que aquela voz chegava bem pertinho do meu ouvido e se fazia presente. Parecia que cada célula acordava e sentia aquela vibração. Depois a sua imagem para mim a mais bonita, pois quando amamos vemos o eu interior e o dele é lindo. Lembro que a primeira coisa que ele fez foi mostrar o que ele chamava de “defeito”. Não via o defeito que ele tanto dizia ter. Infelizmente as pessoas são cegas porque olham com os olhos eu o vejo com o meu coração. E o primeiro encontro... O primeiro beijo roubado como ele diz (mas ainda discuto isso não roubei) e que beijo. Foi o primeiro de muitos e muitos. A primeira vez que nos amamos foi delirante e é assim até hoje, pois eu nunca vi olhos tão brilhantes como os seus no momento do êxtase quando ele se entrega totalmente ao meu amor confiando totalmente em mim e no que posso fazer sem questionar simplesmente sentindo o amor que tanto lhe transmito com minhas mãos e com meu olhar. Hoje o meu amado Israel, completa 23 anos e a única coisa que sinto é um enorme sentimento de gratidão a esse Pai todo poderoso por ter permitido que ele estivesse na minha vida me fazendo uma mulher muito feliz, muito MULHER. Parabéns, meu gatinho, parabéns pelo seu dia e muito obrigada por está na minha vida me amando e me fazendo feliz. TE AMO ISRAEL GOULART. Parabéns pelos seus 23 anos.
Sua Déa

Texto escrito no dia 26/07/2007 aniversário do meu amor Israel